Este trabalho se propõe defender o
uso e a importância das histórias em quadrinhos dentro da sala de aula e no
ensino de história. A temática de contextualização histórica do trabalho é A
vinda da família real para o Brasil e a problemática desenvolvida vem a ser como
o processo expansionista militar de Napoleão Bonaparte atuou na vinda da Corte
Portuguesa de Dom João VI para terra brasileira?
Cada vez
mais devido à globalização da informação e os veículos midiáticos como
formadores de opinião e fonte intelectual, tem-se cabido ao professor a
necessidade constante da busca e expansão por novas metodologias e ferramentas
de trabalho. Atualmente com a amplitude de métodos de trabalho principalmente
no ensino de história buscou-se perceber que a tarefa educacional não consiste
apenas na transmissão e reprodução do conteúdo exigido pelos livros didáticos.
Preocupados
com novas abordagens percebeu-se que era possível a educação através de novas
fontes ligadas a produção social como histórias em quadrinhos, filmes,
literaturas de cordéis, charges entre outras. Este estudo observará e analisará
qual a melhor forma de trabalhar as histórias em quadrinhos em sala de aula
desenvolvendo a capacidade no aluno de perceber os diálogos construídos
relacionando-os às imagens visando também os benefícios didáticos
proporcionados por essa ferramenta de ensino como o auxílio no desenvolvimento
do hábito de leitura já que hoje é percebido o crescente desinteresse por essa
prática, essencial para o ensino global.
A história
em quadrinhos a ser trabalhada tem o título de: “Um país independente” e tem
como pesquisador histórico Edson Rossatto e roteirista Jota Silvestre.
A história
descreve a ida de três jovens [importante destacar as múltiplas características
desses jovens, onde há uma nipo-brasileira um afro-brasileiro e um portador de
necessidades especiais o que leva o aluno a reconhecer a multiplicidade étnica
brasileira como também a conviver com as diferenças tanto raciais quanto
físicas] ao Museu do Ipiranga em São Paulo, percebe-se a importância dada ao patrimônio
nacional há uma reafirmação da história presente na sociedade. Os três
protagonistas entediados no museu encontram um professor de história que lhes conta
a história da vinda da família real para o Brasil, trabalhando o antecedente
histórico que propulsou tal fato, o bloqueio continental. Construiu-se no
enredo da história não um simples narrar de fatos, mas sim um jogo dialético de
questionamentos desenvolvidos pelos próprios jovens através do raciocínio
crítico, isso demonstra ao aluno a capacidade de absorção de conhecimento
através do próprio questionamento e da própria dúvida.
A riqueza
das histórias em quadrinhos e em especial desta, que trabalha de forma exímia a
força crítica do diálogo juntamente com as imagens, aderindo a esta história o
uso do mapa para demonstrar os países anexados ao Império Napoleônico como
também o desenho caricaturístico dos principais personagens históricos como
Napoleão Bonaparte, Dona Maria “a louca” e Dom João VI. Valdomiro Vergueiro com
seu artigo sobre O uso das histórias em
quadrinhos no ensino entende que a interligação do texto com a imagem,
existente nas histórias em quadrinhos, amplia a compreensão de conceitos de uma
forma que qualquer um dos códigos isoladamente teria dificuldades para atingir.
Na medida em que essa interligação texto/imagem ocorre nos quadrinhos com uma
dinâmica própria e complementar, representa muito mais do que um simples
acréscimo de uma linguagem a outra, mais a criação de um novo nível de
comunicação, que amplia a possibilidade de compreensão do conteúdo programático
por parte dos alunos.
O
professor de história, um personagem da trama e narrador do fato histórico,
toca diretamente o psicológico do leitor de forma muito sutil, trabalhando a
emoção e a curiosidade, força motivacional essencial para o interesse à
aprendizagem. Trabalha ainda conceitos de cidadania como a gentileza, calma e
sagacidade habilidades indispensáveis no mundo contemporâneo e raramente
percebidas em nosso cotidiano e convívio atual. Este se mostra compreensivo à
frustração dos jovens em não se interessaram pela história e se propõe a
explicar o conteúdo aos mesmos sob um novo olhar com diferentes abordagens.
Proporciona ainda em sua discrição aspectos sócio-econômicos com a intenção
britânica em colaborar com a vinda da família real para o Brasil a fim de
conquistar mercado consumidor no mundo e também aspectos culturais da corte
como o transporte de pratarias, jóias e como descreve no enredo (...) “Dom João
mandou embarcar o acervo da real biblioteca com raridades como a primeira
edição de Os Lusíadas e também um prelo e tipos para prensa.” São abordados
ainda aspectos curiosos cotidianos como a influência da família real nos
costumes brasileiros quando Carlota Joaquina chega ao Brasil com um turbante na
cabeça devido à proliferação de piolhos nos navios reais e logo o povo adere ao
ornamento entendendo-o como moda européia.
A obra em
estudo então mostra que os quadrinhos podem ser escritos com uma linguagem de
fácil entendimento e também devem ao mesmo tempo introduzir novos conceitos e
vocabulários de forma que o conhecimento ampliar-se-á quase que
despercebidamente pelos alunos. Tais fatores observados constatam que de forma
invariável os quadrinhos contribuem para o auxílio no desenvolvimento do hábito
da leitura. Assim, a ampliação da
familiaridade com a leitura de história em quadrinhos, proporcionada por sua
aplicação em sala de aula, possibilita que muitos estudantes se abram para os
benefícios da leitura, encontrando menor dificuldade para concentrar-se nas
leituras com finalidade de estudo.
O enredo
analisado da história em quadrinhos traz ainda as dificuldades enfrentadas
pelos viajantes dos navios portugueses, onde encontravam a falta de espaço e de
suprimentos como a água, o que mostra ao aluno que as condições eram precárias
mesmo para a corte portuguesa. Trabalha-se ainda abordando esta transição de
Lisboa ao Rio de Janeiro, o conceito de tempo e suas dimensões: sucessão,
duração e simultaneidade. Para utilização do conceito temporal usam-se
principalmente os recordatários. Onde se lê ”Mais tarde...” ou “Logo depois...”
pode ser um exemplo de sucessão e, de outro lado aquele que se lê “Enquanto
isso...” pode facilitar o aluno a percepção de simultaneidade. Os elementos
visuais utilizados para indicar uma passagem de tempo na história em quadrinhos
podem ser usados para uma reflexão sobre os diferentes tempos: o tempo da
natureza, o tempo do relógio ou o tempo biológico como lembra Túlio Vilela em
seu artigo Os quadrinhos na aula de
história.
Este
artigo busca incitar o professor ao uso de novas ferramentas metodológicas, em
especial as histórias em quadrinhos, percebendo sempre o caráter globalizador
que proporciona condição de compreensão a qualquer estudante, sem necessidade
de um conhecimento anterior ou específico ou familiaridade com o tema, seja ele
ligado a antecedentes culturais, étnicos, lingüísticos ou sociais. As histórias
em quadrinhos possibilitam ainda, com seu uso, a integração entre as diferentes
áreas do conhecimento, possibilitando na escola um trabalho interdisciplinar e
acima de tudo proporcionando de forma direta um bem maior ao estudante que a o
desenvolvimento das diferentes áreas interpretativas como a visual e a verbal.
Fonte:
História em
quadrinhos - Independência do Brasil. Pesquisa histórica e argumento – Edson
Rossatto. Roteiro - Jota Silvestre. Desenho – Laudo (com
colaboração de Will). Apresentação – Roberto Araújo. Edição – Manuel de Souza.
Referências bibliográficas:
Barbosa,
Alexandre. Como usar a história em
quadrinhos em sala de aula/ Alexandre Barbosa, Paulo Ramos, Túlio Vilela,
Ângela Rama, Waldomiro Vergueiro, (orgs). 2. Ed. – São Paulo : Contexto, 2005.
– (Coleção como usar na sala de aula).
* Artigo produzido para a disciplina de Estágio Supervisionado sob a orientação da professora Ana Eugênia Nunes de Andrade
* Artigo produzido para a disciplina de Estágio Supervisionado sob a orientação da professora Ana Eugênia Nunes de Andrade