As
comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil foram bastante
conturbadas, houve muitos desencontros entre governante e grande parte da
sociedade, a superprodução, a desorganização de agendas, gastos excessivos,
descumprimento de protocolos, entre outros problemas que vamos analisar ao
longo do artigo, foram os motivos de tais desentendimentos, o fato é que ficou
uma interrogação na cabeça, com tantos problemas e a maioria da sociedade sendo
deixada de lado, a programação por sua vez não foi cumprida, e houve muitos
protestos na data, mostrando a realidade do país, os fatos repercutiram
fortemente no exterior, passamos então a questionar, mesmo após 500 anos, será
mesmo que temos motivos para comemorar?
Neste
artigo pretendo mostrar os diferentes olhares através da mídia e da imprensa dos
principais fatos que marcaram as comemorações dos 500 anos do Brasil, a
programação dos festejos, a efervescência nas comemorações, os protestos e conflitos
que ocorreram ao decorrer da programação do evento.
Todos os
canais de comunicação estavam voltados a um só acontecimento, na semana do dia
22 de abril de 2000, a festa de comemoração dos 500 anos, os festejos foi um verdadeiro
fiasco, que retratou sem intenção proposital, a real desordem e progresso em
que vivemos.
O brasileiro
é conhecido como um povo pacifico, a fantástica mistura de três etnias: índios,
brancos e negros, um povo ordeiro e sem preconceitos, engana-se quem ainda
pensa assim, hoje vivemos um momento de contestação desses estereótipos, que
perduraram durante séculos. É possível observar essas mudanças através da
comemoração do V Centenário do “Descobrimento” do Brasil. Até mesmo a palavra
“Descobrimento’ já não esta mais sendo usada em alguns livros didáticos devemos
rever alguns conceitos de nossa história e fazer uma longa reflexão.
A começar com os protestos dos verdadeiros donos da festa, os índios xavantes e mehinaku, que entregaram uma carta de protesto a Fernando Henrique Cardoso (PSDB), presidente da República, dizendo: “não estamos comemorando nada”, “esta não é nossa comemoração”.
Comemorar
do latim significa = “lembrar em conjunto”, comemoração e identidade estão
intimamente ligados. Nesse sentido a memória e o esquecimento caminham juntos
na construção de uma identidade. “Reconstruções do passado que revelam a
sociedade que comemora, comportando discursos e contra discursos tornando as
comemorações objetos criativos de reflexão histórica” (MATOS: 2000.p. 329 –
331).
A carta
afirmava que "o povo brasileiro não conhece o povo indígena". Termina
afirmando que os índios estavam ali com o objetivo de realizar "um ritual
de passagem para transformar este lugar num país onde nosso povo possa
viver".
Ainda em Porto Seguro, na Bahia, houve repressão aos protestos e 141 pessoas foram detidas entre elas jornalistas índios e civis que estavam sem intenção quaisquer nem resistência ofereceram. No dia seguinte o presidente da FUNAI pediu demissão, dizendo que as autoridades tinham “temor ao povo” Uma manifestação pacífica não poderia acabar de tal forma mostrando se revoltado com a repressão.
A mídia
televisiva fez proveito do acontecimento criando projetos como o da Rede Globo
Brasil 500 entre outros, com shows e programas especiais, alguns jornais
impressos divergiram em algumas idéias, uns davam foco a comemoração, aos
acontecimentos, sem mostrar a realidade dos fatos, outros a uma reconstrução da
realidade.
Outro acontecimento que marcou foi à demissão do Ministro dos Esportes e Turismo, que por sua vez fez denuncia de irregularidades, e falou sobre o uso mal feito de recursos e gastos excessivos e acabou tendo seu próprio partido contra si próprio.
A repercussão internacional foi imediata, de
forma bastante negativa para a imagem do Brasil, a repressão, a corrupção, a
desorganização das comemorações ganharam capa de jornais no mundo, em alguns
casos até exageradamente como os jornais, El Pais e The New York Times, que
focaram a violência. “Os índios aproveitaram celebração para denunciar a
violência que é submetida”.
Uma série
de gafes marcou os eventos, a presença de pouquíssimas pessoas a Missa dos 500
anos, a Igreja Católica se posicionou pedindo perdão aos índios e negros, uma
atitude inédita, mas que se minimizou com o discurso de um índio Pataxó que
chegou a causar mal estar ao perguntar aos presentes se não se envergonhavam do
tratamento dado aos povos indígenas durante esses séculos, o índio foi bastante
aplaudido.
A construção da polêmica e cara Nau da Capitania uma réplica que Cabral usou para chegar ao Brasil, feita especialmente para as comemorações custou uma fortuna, mas acabou não funcionando, e se tornou um símbolo do fracasso da festa.
Ao
observar a apresentação desse trabalho pude perceber que a comemoração foi um
acontecimento que se construiu por aquilo que o governo queria fazer e tentou
realizar, e desconstruído por acontecimentos e pela intervenção dos sujeitos
sociais.
Em minha
opinião os acontecimentos, foram importantes para levantar questões e mostrar
para o povo brasileiro que temos que rever e refletir. Existe muita coisa
errada no nosso país, antes de comemorar da forma com que se pensa e festejar,
devemos mudar e lutar sim, para a criação de uma identidade que é de suma importância
para uma nação, a reivindicação dos direitos da maioria do povo, o uso do poder
de nossos representantes deixa a desejar, a nossa República e nossa democracia
não funcionam, somos enganados pelo direito de voto. E nós brasileiros temos o direito de protestar
de buscar pela melhoria pela mudança, e principalmente, por justiça sem sermos
reprimidos, e abafados.
Devemos
escrever a História e mostrar para as futuras gerações como ela realmente é,
com o propósito de levantar questionamentos e discussões que possam surtir
efeitos de mudanças no comportamento, na atitude do povo, e no ensino da
História não como uma matéria “decoreba”, mais reflexiva onde a realidade,
muitas vezes, passa despercebida aos olhares da maioria, devido à força dos
meios de comunicação e do poder dos governantes que para seu beneficio próprio
e sua própria imagem tenta esconder ou camuflar a realidade.
Referências Bibliográficas:
MATOS, Maria Exibida
Santos de. Comemorar, Celebrar e Refletir:
Sentidos da Comemoração, São Paulo VI, M.20 P329 -331, Abril, 2000
Público em
missa é menor que esperado, FOLHA DE SÃO PAULO, São Paulo 27 Abril 2000.
LARA, Silvia Monteiro de
Castro. Produzida no âmbito da Pesquisa “Imagens do Brasil” no GRIS - versão
reelaborada da monografia por Renato Guimarães de Souza, e Ricardo Fábio
Mendonça.