A Era
Vargas foi, sem dúvida, um dos períodos que a propaganda teve maior influência
sobre as massas, no intuito de transmitir a imagem de um governo que faria o
Brasil progredir, deixando para trás os rastros da República Velha, que não
seriam retomados, pois eram considerados desgastados, ultrapassados. Vargas
criou sua imagem de “pai dos pobres”, “salvador da pátria”, e com isso,
conseguiu grande apoio da população. Porém havia muita contradição, pois o
presidente tinha apoio do exército e das oligarquias, sendo que essas últimas também
apoiavam a República Velha, a qual Vargas prometeu esquecer completamente e
conduzir um novo tipo de governo.
Havia muita
censura e repressão, ocasionando uma ausência na liberdade de imprensa, fazendo
com que as classes sociais não obtivessem meios de expor seus pensamentos a
respeito do governo de forma direta. O que as pessoas falavam no dia-a-dia não
podia ser exposto em sua totalidade nos meios de comunicação, e dessa forma
Vargas se mantinha muito solidamente no poder, com apoio das poderosas
correntes já citadas [exército e oligarquias] e tendo como principal oposição
os comunistas, os quais o governo fazia propaganda negativa classificando-os
como “terroristas”, “malvados” etc.
É nesse
contexto que entram as charges [tiras humorísticas publicadas em revistas e
jornais] com um tom extremamente sarcástico: era o único modo das pessoas
atacarem ao governo e falarem coisas do cotidiano sem serem perseguidas,
através de sátiras, piadas e zombarias. Elas começaram a ser utilizadas, pois
seus desenhos são um atrativo para leitores, prendendo a atenção e sendo mais
aceitas até pelos que não tem o hábito de leitura constante. Era uma maneira de
criticar as coisas do cotidiano e da vida política driblando a forte censura da
época.
A charge é
uma riquíssima fonte histórica, pois apresenta em um pequeno número de
quadrinhos, uma quantidade relevante de aspectos do dia-a-dia, como o
pensamento das classes baixas (as que mais se identificam com ela), pensamentos
políticos, críticas urbanas, mudanças, velocidade, interação, enfim, uma
abrangente carga de traços da vida na época.
Portanto,
quando surge a pergunta em mente: “As charges eram puramente humorísticas?”,
devemos ter a resposta pronta a ser dita – Não! O humor é a principal
característica das tiras, mas o que mais se nota são críticas sociais, com o
intuito de entreter a população, e ao mesmo tempo, informá-la a respeito do que
se passa no país, de como pensar e não ser facilmente enganada pelas
propagandas do governo, e principalmente, como resistir a tais imposições. No
melhor estilo brasileiro de se fazer as coisas: resistência através do bom
humor e da brincadeira [as charges tiveram origem na França].
É uma forma
de incitar a população a ter pensamento crítico, ao saber das intenções do
governo e de suas atitudes, e também do êxito ou fracasso das medidas tomadas
por Vargas. Podemos notar aspectos como as lutas políticas, a referência aos
comunistas, a boa capacidade de fazer alianças de Vargas [satirizada como
manipulação], as correntes que apóiam o governo [simbolizadas como verdadeiras
correntes metálicas, ou seja, elos de metal unidos], a República Velha [simbolizada
como uma mulher velha, gorda e cansada deitada em uma cama], a Revolução de
1930 [na forma de uma mulher alta, bonita e com belo corpo, a qual nem mesmo
Vargas conseguiu satisfazer após conquistá-la], entre outros.
Dessa
maneira, podemos concluir que as charges são a arma mais poderosa das oposições,
pois são facilmente absorvidas pela população. Não é preciso ser um intelectual
sobre política para entendê-las – basta estar atualizado sobre o que ocorre no
seu país e na sua sociedade. Pode atrair tanto adultos quanto crianças, pois as
caricaturas são engraçadas e fanfarronas. Não é de se estranhar que o Brasil é
o país onde elas mais alcançaram o sucesso, afinal no país do carnaval e do
futebol, o bom humor é sempre bem vindo, por qualquer parte da população –
exceto pelas classes que são o alvo das satirizações.
* Artigo produzido para a disciplina de Estágio Supervisionado sob a orientação da professora Ana Eugênia Nunes de Andrade.