terça-feira, 3 de abril de 2012

Sabores do Mercado Municipal de Pouso Alegre (1893-2009)

Semana das Licenciaturas - Cultura e memória
Alunos do III período de História
Professora responsável: Ana Eugênia Nunes de Andrade
Pouso Alegre/ 2009

Objetivo geral
Apresentar aos professores e alunos dos cursos de licenciaturas da Unidade Fátima da Universidade do Vale do Sapucaí, as ricas e variadas práticas culinárias do Mercado Municipal de Pouso Alegre através das memórias de cada sujeito social que convive neste local de trabalho tecendo assim, redes e táticas de convívio próprio.

Justificativa
Conhecer através da História Oral a trajetória de vida dos comerciantes de produtos típicos do sul de Minas (queijo, doce, pastel e tira-gosto) do Mercado Municipal de Pouso Alegre para compreender suas histórias sociais e culturais.

Metodologia
A sala foi dividida em quatro grupos para a realização do trabalho de campo, que pesquisaram as seguintes práticas culinárias: queijo, doce, pastel e tira-gosto.Todos os grupos fizeram entrevistas (histórias de vida) com os comerciantes e consumidores do mercado para identificar o valor cultural e social do local. Além de pesquisa em acervos públicos e particulares, jornais, sites oficiais.

Túnel do tempo
  •  Inauguração em 10 de Julho de 1893
  •  A construção original era dotada de um corpo central, dividido em compartimentos e dois lances laterais, o comércio de hortaliças, frutas, aves e carnes era feito em toda a extensão da calçada, em frente da residência do cel. Julião Meyer, de um lado, e por outro lado com dona Maria do Carmo Silveira e outros.
  • O largo era fechado na sua extremidade, nos fundos do Mercado, por casas de comércio, com saída para a Rua da Princesa Imperial (Adalberto Ferraz e Cel. Otávio Meyer). Uma rua estreita - atual Av. Duque de Caxias - continuava em direção ao bairro do Rosário.
  • No local foram plantadas algumas árvores de grande porte, e sob suas imensas copas ficavam os carros de boi, sem as suas respectivas juntas, ou carroças carregadas de produtos destinados à venda.
  • No começo do século o Mercado sofreu reforma ganhando nova fachada, janelas com arcos, destacando-se a porta de entrada, com escadaria e elevando-se como uma torre.
  • Nos finais de semana o Mercado era ponto de encontro dos negociantes e compradores
  • O intenso movimento de carroças e carros de boi, pertencentes a sitiantes que ali vinham expor os seus produtos, tais como, queijos, rapaduras, farinha de mandioca e de milho, fubá, toucinho. Além de gêneros alimentícios e carnes. Nos fundos vendiam-se, pendurados em varais, frangos vivos ou peixes  frescos do rios Mandu e Sapucaí. Ao redor do Mercado ficavam os carrinhos de mão, feitos de caixotes, dirigidos por moleques que faziam o transporte das compras até as residências, ao preço de 400 réis. Contratado pelos fregueses, o moleque os acompanhava pelo Mercado carregando a cesta de vime, que ficava abarrotada de hortaliças, frutas e cereais. As compras eram feitas, geralmente, por donas de casa, que dedicavam o sábado para fazer as provisões do lar necessárias para toda a semana.
  • Em 1941, o Mercado Municipal foi ampliado e melhorado pelo prefeito Vasconcelos Costa.
  • Em 1970, na administração do prefeito Antônio Duarte Ribeiro, o Mercado sofreu uma reforma geral, sendo quase todo reconstruído e ampliado até a Praça Dr. José Garcia Coutinho, tornando-se mais amplo, como o conhecemos atualmente.
  • O local passou por quatro grandes reformas, nos anos de 50, 60,70 e a última em 2004. Ao redor do Mercado ficavam os carrinhos de mão, feitos de caixotes, dirigidos por moleques que faziam o transporte das compras até as residências, ao preço de 400 réis.
  • O Mercado servia também como ponto de encontro de amigas e comadres, que aproveitavam a oportunidade para uma breve conversa ou fofoca.
  • Eram muito apreciados os pasteis de farinha de milho e o arroz doce, vendidos nas bancas, assim como a garapa de cana-de-açúcar, que era moída na hora. As crianças se deliciavam com as bolachas, em forma de bichinhos, vendidas pelo Miguelão.

Jornal O imparcial

Meninas que perambulam pelo mercado público
“Chamamos a atenção do Sr. Delegado de polícia, para que coíba a exploração de que está sendo vítima o povo, sob garras manhosas dessas almas ingênuas, e futuras extraviadas. Sim, porque os pais muitas das vezes aproveitam oportunidades, ficando em suas casas, enquanto seus filhos e filhas sujos, de mãos estendidas vão pedindo esmola pelo amor de Deus.  Este fato sempre se registra em mercado público. Recomendamos as autoridades a agir com muita prudência”.

Fontes orais
  • As sete entrevistas foram realizadas nos meses de fevereiro e março de 2009.

Ednaldo dos Santos Mendes, comerciante


  



















Fui criado aqui dentro à vida inteira. A gente faz aqui vários tira-gostos, faz torresmo, chouriço, pé de porco, joellho, costela de boi, peixe frito. O mercadão melhorou muito, principalmente, depois da última reforma que teve aqui, melhorou muito para gente, ficou campeão. A barraca era mais rústica, hoje ela está bem acabada, a cozinha, por exemplo, a mesa hoje é tudo de ardósia, é mais higiênico, também mais fácil para gente trabalhar.

Reginaldo Guimarães do Couto , comerciante




















Frequentava muito o mercado e se divertia muito, pois, seu avô e depois seu pai tinham um pastelaria, e que hoje é de sua propriedade. Estou satisfeito com seu negócio, (é daqui que tiro todo meu sustento e de minha família), e que futuramente quer deixar para seus filhos.

José Gervásio Pereira, comerciante

















Nasci no bairro dos Afonsos, bairro rural, minha infância foi estudar, engraxar sapatos, vendi picolé, aí vim para o mercado em 1962 e daqui carregava compras no mercado. Aqui no bar agente tem 4 tipos de tira-gosto , peixe frito é o preferido, a carne de porco, o chouriço  carne de vaca na panela  e a carne de porco assada . No final de semana, a gente faz espetinho de carne de porco e carne de vaca, sexta sábado e domingo.

Alexandre de Araújo, diretor do Museu Tuany Toledo






















O Mercado Municipal que eu conheci no meu tempo de criança foi demolido pelo vice-prefeito Antonio Ribeiro. No mercado era vendido todo gênero, arroz, feijão, manteiga, banha, carne, tinha açougue, e os produtores vinham da roça com seus produtos. Vinham carros de boi, os carros de boi, ficavam de fronte ao mercado, vendendo rapadura, os carretos dormiam dentro do carro de boi... Nessa época, do Mercado nos meus 8 ou 10 anos, eu tinha um carrinho, desses de duas rodas, de fazer compras, de sociedade era eu e o Augusto Ribeiro, que tinha minha idade também. Então eu chegava ao Mercado, tinha a senhora lá carregada de compra. Eu pegava os pacotes, punha a compra no carrinho e levava a compra na casa dela. Em troca de 500 réis, 600 réis. Como disse pra você, o Mercado que eu conheci talvez tenha sido construído na gestão do Otávio Meyer, 1910/12. Em 1941, Antonio Ribeiro que substituiu Jorge Anderi demoliu o Mercado do meu tempo de criança e construiu o atual, que tem uma leve transformação executada pelo Enéas Chiarini. Mas o Antonio Ribeiro demoliu o Mercado e fez o atual. E defronte ao Mercado tinha um obelisco comemorativo ao centenário da cidade, como ele demoliu o mercado, não sei como, aumentou o mercado dez, quinze, metros pra frente tiveram que demolir o obelisco. Desapareceu. Tem a fotografia no museu.

José Benedito Machado, representante comercial

















Assim que cheguei a Pouso Alegre, em 1975, para evitar “vagabundice”, já trabalhava de balconista, no mercado com meu tio Geraldo. A gente vendia: suco de morango, feijão, arroz, cebola, derivados do leite, queijo...Há 34 anos o Mercado Municipal era o ponto turístico de Pouso Alegre. Todo pessoal que vinha de São Paulo Capital, São Paulo Interior, primeiro local visitado era o Mercadão Municipal, pra comprar alguma coisa, comprar um queijo mineiro e também tomar uma gelada. Nesta época não tinha vendedor. Tinha que pegar uma Kombi e fazer compra em São Paulo. Então iam, 3, 4, 5 donos das bancas, íamos num carro só, num caminhãozinho só para fazer compra, com  azeitona.  Eu mesmo cheguei a ir para São Paulo fazer compra, pegava a Fernão Dias, era uma pista só na época, saía de lá 8 horas da noite, aí no outro dia de madrugadinha, descarregava aqui no mercado... Hoje muita coisa mudou, na época, na banca que eu trabalhava, por exemplo, não tinha nenhuma proteção, laje, assim, pra proteger do calor, era abafado para caramba. As bancas não tinham proteção com relação ao calor. E o fechamento dela era tudo com uma cortina de pano, era diferente... O piso também era vermelhão, era diferente de hoje. O queijo vinha do Espírito Santo do Dourado, tinha a fama de um queijo bom e os doces de Santa Rita de Caldas. O transporte principal eram as charretes, tinha umas 30 ali perto do mercado. O movimento era mais de caminhão que descarregava.

Eliane, comerciante

É natural de Caldas, casada com o senhor João, natural de Heliodora. Trabalham nesse ramo há 20 anos. Tudo começou porque seu marido estava desempregado e sem outra forma de renda, os dois começaram a revender queijos que o pai dela fazia. Eles trabalhavam de casa em casa, nas feiras e em beiras de estrada. Certo dia um amigo da família também de Caldas lhe deu a idéia de revender seus doces, começaram com duas caixas somente para teste, o negócio cresceu e hoje tem uma grande barraca. Ela nos conta que eles estão no local há 10 anos e já possuem uma clientela fiel, seus doces vão para vários estados levados pelos turistas. Ela nos garante que mesmo com a concorrência eles tiram todo o seu sustento dali “os doces são terceirizados, mas mesmo assim, a barraca é muito lucrativa. Ela se orgulha de sua barraca e de sua profissão, pois é dali que sai o sustento de seus dois filhos, ela diz ser uma pessoa muito feliz.

Antonio César Tireli, administrador do mercado

70% dos boxes do mercado são de alimentação e que passa pelo mercado 4.000 pessoas por semana. Os comerciantes pagam para a Prefeitura uma taxa, mais que o valor desta taxa varia com o tamanho do box. Há um grande projeto sendo estudado pela Secretaria Municipal de Turismo para uma reforma do mercado. A prefeitura está contratando o arquiteto que reformou o mercadão da cidade de São Paulo, e que está quer trazer de volta traços da originalidade do antigo mercado construído em 1893. Frequentava muito o mercado e se divertia muito, pois, seu avô e depois seu pai tinham um pastelaria, e que hoje é de sua propriedade.


* Trabalho elaborado pelos acadêmicos de história para a Semana das Licenciaturas da Univás sob a orientação da professora Ana Eugênia Nunes de Andrade.